Como a tecnologia contribui para uma indústria da moda sustentável?

Com a urgência climática e os impactos ambientais e sociais, a aplicação de novas tecnologias na indústria da moda pode ser o caminho para torná-la mais sustentável e valiosa.
Atualizado em: 9 de outubro de 2023
Tempo de leitura: 9 minutos

Entra ano, sai ano e o tema indústria da moda vs. sustentabilidade continua no centro do debate sobre impactos ambientais e sociais. São impactos gerados ao longo da cadeia de produção, no consumo e no pós-consumo de seus produtos.

Mesmo que a moda não esteja, exatamente, no segundo lugar entre as indústrias mais poluentes no mundo — não há dados concretos que comprovem essa informação — , o fato é já conseguimos enxergar o problema a olhos nus, no desmatamento e na poluição da água, ou mesmo nos cemitérios de roupas no deserto do Atacama.

E se de um lado há a expectativa de que a indústria da moda se responsabilize por seus impactos e busque mitigá-los, do outro estão os consumidores cada vez mais conscientes sobre seus efeitos e cobrando empresas sobre estas ações.

A boa notícia é que, por bem ou por mal, muitas empresas notaram isso. Por consequência, elas estão assumindo um compromisso e implementando mudanças significativas em seus processos produtivos, alinhados à urgência climática, ambiental e social.

Neste artigo, listamos as principais inovações da indústria da moda para a sustentabilidade e como as tecnologias têm um papel fundamental nessa jornada. Siga a leitura para descobrir.

O que é indústria da moda?

Indústria da moda é um conceito que engloba em si todo o ciclo de um produto de moda, da produção de matéria-prima ao consumo.

Podemos dizer, ainda, que a indústria da moda é um setor amplo que vai além da produção de tecidos na indústria têxtil. Isso porque ela envolve também o design, a confecção, a distribuição e o marketing de roupas, acessórios e outros itens relacionados à moda. Podemos acrescentar ainda a fase do pós-consumo, como reciclagem, upcycling e outros destinos após a compra e o uso do produto novo.

A moda, por sua vez, veio antes da criação dessa indústria e hoje pode ser definida de diferentes formas como: expressão do que somos ou queremos ser, comunicação, arte, cultura, e por aí vai. Moda não significa vestir as tendências do momento, mas, simplesmente, vestir-se.

É claro, não podemos esquecer que a moda foi usada, por muitos séculos, como uma forma de diferenciar os nobres de outras classes sociais, principalmente na Europa.

Determinadas cores, materiais e até tipos de peças foram, por muito tempo, uma exclusividade dos ricos, seja pelo preço, pela escassez ou pelo símbolo de poder e nobreza.

Mas isso começou a mudar no século XVIII, com a Primeira Revolução Industrial e a criação e evolução de máquinas de tecelagem. Adiante, as indumentárias se tornaram mais acessíveis para a classe média.

Criou-se a possibilidade de produzir roupas em massa, muitas vezes imitando o que antes era limitado aos mais ricos. Surge aí o que conhecemos hoje como indústria da moda.

Créditos: TV Cultura no Youtube.

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Indústria da moda é uma das mais lucrativas

Hoje, a indústria da moda é uma das mais importantes do mundo, com um crescimento de 11,4% ao ano e estimativa de US$ 1 trilhão de faturamento em 2025.

Com quase 200 anos de funcionamento, o Brasil possui a mais completa cadeia têxtil do ocidente, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). De acordo com os dados mais recentes da Abit, o faturamento da cadeia têxtil e de confecção brasileira faturou R$190 bilhões em 2021, contra R$ 161 bilhões em 2020.

Etapas da cadeia produtiva da moda

A cadeia produtiva da moda tem início muito antes da confecção de vestuário e calçados, na produção de matérias-primas como o algodão, linho, entre outras, no caso das fibras naturais. Os tecidos sintéticos são produzidos pela própria indústria têxtil.

O passo seguinte é a transformação desses materiais em fios, na fase de fiação, que logo serão entrelaçados na etapa de tecelagem. Assim, uma vez formados os tecidos, estes passam pelo beneficiamento, que nada mais é que o acabamento no tecido por meio de tingimento, lavagens e estamparia.

A partir de então, os tecidos estão prontos para serem utilizados na confecção de roupas e calçados, que serão distribuídos no mercado para os consumidores.

indústria da moda e sustentabilidade - coleção iris van herpen
Desfile da grife holandesa Iris Van Herpen, em colaboração com Parley for the Oceans, com modelos feitos a partir de resíduos encontrados no oceano. Créditos: Iris van Herpen.

Moda e sustentabilidade: do que estamos falando?

É comum que as pessoas enxerguem a moda sustentável como uma tendência ou um nicho dentro do setor. Mas a verdade é que moda e sustentabilidade passaram a ter uma relação um pouco mais íntima nas últimas décadas. Isso porque os olhares do mundo se voltaram para as questões climáticas, ambientais, sociais e de direitos humanos, como o uso criminoso do trabalho escravo.



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A discussão sobre responsabilidade social e sustentabilidade na moda, que teve início nos anos 1960, se intensificou nos anos 2000, chegando ao seu ápice em 2013 após o desabamento do edifício Rana Plaza, onde funcionava uma fábrica de roupas, que causou a morte de 1.138 pessoas. A partir desse evento traumático, foram criados movimentos como o Fashion Revolution, por uma moda que preserve o ambiente e valorize das pessoas acima do lucro.

Assim, a moda sustentável tem como abordagem uma indústria da moda que busca minimizar os impactos negativos no meio ambiente, nas condições de trabalho e na sociedade como um todo. Isso envolve a adoção de práticas e processos que levam em consideração os aspectos ambientais, sociais e econômicos ao longo de toda a cadeia de produção e consumo, por exemplo:

  • Redução do consumo de recursos naturais, como água e energia;
  • Diminuição de resíduos poluentes
  • Garantia de condições de trabalho justas e seguras em toda a cadeia de produção;
  • Respeito aos direitos trabalhistas e erradicação de trabalho infantil e trabalho escravo;
  • Promoção da produção local;
  • Incentivo ao comércio justo e apoio a pequenos produtores e artesãos, entre outras ações.

LEIA MAIS | Por que ser uma empresa sustentável é essencial? Descubra agora!

Créditos: Modefica no Youtube.

13 inovações que tornam a indústria da moda menos nociva ao meio ambiente

Sem dúvida, a indústria da moda tem muitos desafios a enfrentar para diminuir os impactos negativos sobre o meio ambiente e a sociedade como um todo. É verdade que estamos caminhando a passos tímidos rumo à sustentabilidade, mas não estamos falando de uma utopia, certo?

Nesse sentido, a tecnologia aplicada à moda é uma das soluções mais evidentes para diminuir impactos ambientais, da produção ao consumo. Aqui, precisamos ser sinceros: sem modernizar a indústria como um todo, a sustentabilidade da moda pode se tornar, de fato, um devaneio.

A boa notícia é que já vemos alguns avanços no uso de tecnologias na promoção de uma cadeia produtiva mais sustentável. Confira algumas delas:

Setor têxtil

Reciclagem de fibras têxteis

Em face ao enorme problema dos lixões lotados de resíduos têxteis, as tecnologias para reciclagem de fibras se mostram como uma alternativa promissora. Além de promover a redução de resíduos na natureza, a reciclagem de fibras têxteis pode reduzir o uso de materiais virgens para a produção de novos itens.

Impressão digital

A estamparia digital por meio de impressão é uma forma de eliminar a necessidade de processos tradicionais de estamparia que consomem muita água e geram resíduos. Isso porque a impressão digital têxtil permite a criação de estampas personalizadas diretamente no tecido, reduzindo o desperdício de tinta e água. 

Tingimentos eco-friendly

A fase do beneficiamento é um ponto de atenção devido a poluição das águas com metais pesados, solventes e ácidos utilizados no tingimento têxtil. Por este motivo, cientistas e empresas de biotecnologia têm estudado maneiras mais sustentáveis e igualmente eficientes para tingir têxteis.

É o caso da Colorifix, que desenvolveu corantes a partir da biologia sintética, um avanço importante para que o tingimento sustentável avance das práticas artesanais para dentro da indústria.

Reuso de água

A indústria têxtil sempre esteve em evidência no debate sobre o uso de recursos naturais. Dados da Ellen Macarthur Foundation estimam um consumo anual de 93 bilhões de metros cúbicos de água pela indústria têxtil. Para diminuir tamanho impacto, empresas já estão repensando seus processos e adotando sistemas de reuso da água utilizados na produção, principalmente no tingimento de tecidos.

Confecção

Automação

A automação de processos na confecção, como enfesto, corte, costura e embalagem, reduz o desperdício de materiais, aumenta a eficiência e diminui o consumo de energia. Por exemplo, máquinas que combinam IA e IoT aproveitam melhor os tecidos porque são capazes de otimizar o encaixe das peças de uma roupa e cortar de forma mais precisa, por meio de lasers, o que diminui a quantidade de resíduos têxteis, como os retalhos.

CAD/CAM

O uso de sistemas CAD (Computer-Aided Design) e CAM (Computer-Aided Manufacturing) permite a criação de modelos virtuais e a otimização do desenvolvimento de roupas, o que reduz a necessidade de protótipos físicos e minimiza o desperdício de tecido. De fato, praticamente todo o ciclo de produção pode ser assistido por softwares: do desenho de moda, passando por moldes digitais, gestão de coleções até o comando de máquinas de corte.

Essas tecnologias também otimizam o uso de materiais, facilitam o ajuste de padrões e agilizam o processo de produção.

Monitoramento e rastreabilidade

O monitoramento e a rastreabilidade da cadeia de suprimentos também são aplicáveis às confecções. Tecnologias como a blockchain e sensores IoT permitem o acompanhamento dos materiais utilizados, o controle das condições de trabalho nas fábricas e a verificação da autenticidade dos produtos. Por fim, isso ajuda a garantir práticas sustentáveis e éticas ao longo da cadeia de produção.

Impressão 3D

Mesmo estando em estágio inicial dentro da indústria da moda devido a alguns desafios, como custos e velocidade de produção, a impressão em tecido 3D, ou tecelagem 3D, tem muito a contribuir com a sustentabilidade no setor.

Isso porque esta tecnologia possibilita a produção sob demanda, economia de recursos, produções complexas de vestuários e calçados e até mesmo a experimentação de materiais sustentáveis, como a REFIBRA™.

Desenvolvida pela empresa austríaca Lenzing, a tecnologia REFIBRA™ transforma sobras de algodão de produção de roupas em novas fibras virgens, a partir da mistura de algodão, madeira e celulose.

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Distribuição e varejo

Logística verde

A logística verde busca reduzir o impacto ambiental das operações logísticas, incluindo transporte, armazenamento e distribuição de produtos. Na indústria da moda, a adoção de práticas de logística verde pode contribuir significativamente para a redução do impacto ambiental. Isso é possível através de tecnologias para otimização de rotas, veículos ecoeficientes, consolidação de cargas para diminuição de veículos em operação, armazenamentos mais eficientes e embalagens mais sustentáveis.

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Realidade aumentada (AR) e provadores virtuais

Muitas marcas de moda no e-commerce já oferecem aos seus clientes as ferramentas de recomendação de tamanho para facilitar a compra online e ajudar o consumidor a entender melhor como ficará o caimento de determinada peça. Ainda assim, isso não impede erros ou mesmo arrependimentos de compra, que podem gerar trocas e devoluções, ou mesmo novas compras e descartes.

A aplicação da realidade aumentada em provadores virtuais pode ser uma alternativa para aprimorar a experiência e a satisfação com compras online, diminuindo gastos com estoque ou logística reversa de pós-venda, e evitando mais roupas nos lixões.

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Consumo e pós-consumo

Blockchain e etiquetas inteligentes

Outra tecnologia que vem sendo aplicada na indústria da moda é a junção de IoT e rastreadores RFID. Sim, aqueles já utilizados em etiquetas removíveis para controle de estoque. Mas, indo muito além, as etiquetas inteligentes, como RFID e NFC, e a tecnologia de blockchain permitem acompanhar todo o ciclo de vida de um produto.

Para os consumidores, essa é uma forma de comprovar se aquele produto foi confeccionado de forma ética e saber, por exemplo, o que fazer com ele quando não o quiser mais.

As etiquetas inteligentes também são uma oportunidade de tornar marcas mais sustentáveis e gerar novos modelos de negócio, como os programas de recompra e aluguel.

Aplicativos de revenda e troca

Na contramão da alta produção e do consumo exacerbado, brechós e pontos de troca de itens de moda se popularizaram nos últimos anos. Antes limitados aos locais físicos e redes sociais, acabou evoluindo para os aplicativos e sites de revenda, como o Enjoei, e outros apps para trocas entre usuários. Algumas empresas já entenderam que o negócio funciona e expandiram esse modelo também para marcas de luxo, da moda à decoração.

Tecnologias de upcycling

O upcycling consiste em devolver valor a materiais descartados ou rejeitados, como tecidos de roupas, reaproveitando-os e transformando-os em novos produtos. A prática faz parte da realidade de muitas marcas sustentáveis, que tem no próprio upcycling o conceito de suas coleções.

Mas o upcycling, unido à tecnologia, pode ir além e se tornar uma prática da indústria. Por exemplo, na separação e transformação de fibras e no uso de materiais reciclados na impressão 3D.

Conclusão

Com o avanço do desmatamento, poluição da água e outros impactos ambientais, é quase impossível ignorar o problema e não fazer algo a respeito. A sustentabilidade se tornou um fator de competitividade no mercado e está diretamente ligada a escolha e a satisfação dos consumidores. A tecnologia, por sua vez, se mostra como uma aliada das empresas na virada para a sustentabilidade nos negócios.

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